segunda-feira, 31 de maio de 2010

AMIGOS





Escolho os meus amigos não pela pele nem outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.

Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito ou os maus de hábitos.

Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.

Deles não quero resposta, quero o meu avesso.

Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco.

Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.

Não quero só o ombro ou colo, quero também sua maior alegria.

Amigo que não ri junto não sabe sofrer junto.

Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.

Não quero risos previsíveis nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.

Não quero amigos adultos nem chatos.

Quero-os metade infância e a outra metade velhice.

Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto e velhos para que nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber quem eu sou.

Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril." (Oscar Wilde)